sábado, 19 de setembro de 2009

NOTAS DE AULA 17 SETEMBRO 2009

NOTAS PARA A AULA DE INTRODUÇÃO À FILOSOFIA - 17/09/2009




Cap. 4 – O universo espiritual da polis



Polis: originada a partir do século VIII a.C. - verdadeira invenção do espírito grego.

Três características que mostram o caráter original da polis grega.



1) A preeminência da palavra como instrumento de poder.


- a palavra não é mais um elemento de eficácia ritual, não tem um poder mágico de instaurar a realidade, pelo contrário, ela é um instrumento de debate, supõe um público que atuará como árbitro a decidir sobre dois discursos contrários.

- o logos toma consciência de si, de sua eficácia, de suas regras, a arte política será uma arte do logos.

- Aristóteles (384-322 a.C.): suas pesquisas sobre as técnicas de persuasão e regras da demonstração, assim como a lógica o verdadeiro são a culminância de um processo que se inicia com a prática da retórica e da sofística nos debates públicos.


2) A plena publicidade das manifestações mais importantes da vida social.


- domínio público: interesses comuns, distinto de interesses privados e práticas abertas em oposição às práticas secretas.

- apreensão, em proveito do grupo de todas as funções antes privativas do basileus ou dos gene.

- acesso ao mundo espiritual, antes reservado aos aristocratas, a um círculo cada vez mais amplo de cidadãos, idealmente ao demos todo.

- conhecimentos, valores e técnicas mentais são levados à praça pública, onde serão objeto de debates, devem mostrar sua retidão por processos de ordem dialética.

- a escrita fonética, alfabética será o meio de uma cultura comum, não mais um saber restrito a escribas especializados, mas acessível a todos.

- a lei escrita: mais do que garantir a fixidez, a escritura da lei permite que ela se torne um bem público, subtraído a autoridade exclusiva do monarca, sem deixar de ter um valor sagrado

- os livros: obedecendo à mesma lógica, os pensamentos individuais de sábios como Anaximandro ou Heráclito, se apresentarão publicamente e, por meio do debate, reivindicarão o reconhecimento de todos.

- o culto público: a cidade reivindica para si os cultos que antes eram propriedades de certas famílias, a divindade passa a proteger a cidade toda, os próprios símbolos sagrados perdem sua eficácia ritual, emigram dos palácios e das casas sacerdotais para o templo, um lugar público e impessoal, onde estarão expostos aos olhos de todos como ensinamento sobre os deuses.

- permanência de um domínio subtraído à publicidade no campo da política: a permanência de práticas secretas de governo lembram que, apesar do racionalismo político, a deliberações sobre o futuro não é algo sobre o que a razão humana possua controle total, há sempre o espaço para o imponderável.

- no plano religioso também há a permanência de práticas não públicas: são as seitas, que se organizam de modo hierárquico e selecionam, por meio de provas, os eleitos a participar de privilégios.

- mas, ao contrário, das antigas confrarias, esses ritos de iniciação estão circunscritos ao terreno religioso e são abertos a todos que desejarem se submeter a eles, não havendo interdição por origem ou classe.

- os primeiros sábios retomam as preocupações das seitas e se apresenta à cidade e é reconhecido por esta como um homem que se distingue dos demais por seu gênero de vida tanto quanto pelo conhecimento que possui, e que será útil à cidade.

- paradoxo da primeira sabedoria: entregar ao público um conhecimento secreto e inacessível.

- as provas para o acesso à sophia e à philosophia incluem uma regra de vida, uma ascese, uma via de pesquisa, o domínio de técnicas de discurso, de técnicas de raciocínio como a matemática, e exercício espirituais.

- ambigüidade da filosofia: nascida sob esse duplo movimento de publicidade e de busca individual da sabedoria, a filosofia flutua entre o mistério dos segredos e a publicidade do debate.

- consequência: o filósofo ora se apresenta como o sábio que tem o conhecimento para conduzir a cidade, ora se distancia da cidade para buscar a felicidade numa sabedoria secreta, reservada a poucos iniciados (a obra de Platão é um paradigma dessa atitude)

3) Isonomia

- os que compõem a cidade, por mais diferentes que sejam individualmente quanto á classe ou origem ou posição social são, de certa maneira, semelhantes ou mesmo iguais.

- origem: tradições igualitárias nos meios militares, atitudes psicológicas da aristocracia dos cavaleiros (hippeis) que recusam um poder absoluto e exigem repartir o poder entre iguais.

- qualificação guerreira instituída como meio para participar dos negócios públicos

- o aparecimento do hoplita, soldado de infantaria, pesadamente armado, que combate em linha estende a um contingente mais amplo de pessoas a possibilidade de tornar-se cidadãos.

- o tipo de combate baseado no soldado hoplita e na disciplina tática também transforma a ética do guerreiro, pois já não conta mais o valor pessoal, o heroísmo de indivíduos, mas sim a capacidade de obedecer ao comando, de manter a posição no campo de batalha. O Thymos (coragem) é substituído pela sophrosyne (equilíbrio).

- assim como os hoplitas, na falange, são intercambiáveis, na cidade, os cidadãos podem ocupar o lugar uns dos outros, sem privilégios.

- o caso de Esparta: no século VI esta cidade parece estar na contramão do fenômeno democrático, com suas instituições arcaicas e seu repúdio ao luxo e ao contato com o estrangeiro.

- no entanto, em Esparta, o fator militar também a encaminhou para uma sociedade de iguais, uma cidade de hoplitas, ordenada pela lei, a ordem social não depende um soberano, mas sim de um equilíbrio entre as várias instâncias de poder (os dois reis, a gerousia, a apella, os éforos).

- por se orientar, primeiramente, por preocupações militares, em Esparta, a palavra e a publicidade não desempenharão um papel tão decisivo como em outras cidades.

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