terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Metafísica A, 3 - Notas de aula

Metafísica A,3




Aristóteles



Conhecer uma coisa é discernir sua causa primeira (princípio)

As causas se dizem de quatro maneiras:

1) a essência, aquilo que o ser é;

2) a matéria, o subjacente;

3) a origem do movimento;

4) a finalidade, o “em vista de que”.

Retomemos essa discussão tomando como base os primeiros filósofos, pois estes também propuseram algum tipo de causa. (Tal exame já foi feito na Física)

A utilidade desse estudo é que ou encontraremos algum tipo de causa diferente daqueles quatro anteriores ou ficaremos mais seguros a respeito deles.

A causa material

os primeiros filósofos admitiram, em sua maioria, este tipo de causa;

para eles, existe um princípio a partir do qual tudo se constitui e no qual tudo se corrompe, há uma natureza que nunca vem a ser e nunca se destrói.

(exemplo: Sócrates, ao se tornar belo ou músico não é algo além de Sócrates, nem deixa de ser Sócrates se perde essas características, há uma essência, que é Sócrates, que permanece sempre a mesma)

A causa material seria, então, uma natureza, ou mais de uma, a partir da qual tudo vem a ser, e quando as coisas se corrompem voltam a ser essa natureza, que nunca deixa de existir.

Segundo Tales, o iniciador da filosofia, essa natureza ou elemento primordial é a água; razão: o alimento de tudo é úmido, as sementes são úmidas.

Também o pensamento sobre os deuses (mitologia) dava grande destaque à água como princípio da natureza (Oceano e Tétis, pais da geração; juramento sobre a água).

Anaxímenes e Diógenes sustentam que a ar é anterior à água como princípio.

Hípaso e Heráclito sustentam que o fogo é o princípio.

Empédocles sustentou que são quatro os elementos primordiais: água, ar, fogo e terra, que se unem e se desunem a partir de algo único (tudo é composição proporcional desses quatro).

Anáxagoras sustentou que os princípios são em número ilimitado e são eternos, juntando-se e desagregando-se conforme a semelhança (homeomerias).

Todos esses filósofos mencionados parecem ter se pronunciado apenas sobre a causa material.

Dificuldade: ainda que admitamos que há um ou vários princípios materiais, é preciso dizer como esses princípios fazem algo vir a ser ou corromper-se, isto é, é preciso buscar outro princípio, qual seja, o princípio do movimento, pois a própria matéria não pode ser a causa de ser isso ou aquilo (por exemplo, a madeira não é a causa pela qual se torna uma cama ou uma mesa).

Parmênides: vencido pela dificuldade de descobrir a causa da mudança, negou que houvesse mudança, e não só quanto ao elemento primordial (que todos consideram permanecer sempre o mesmo), mas também quanto a qualquer mudança.

Duas causas: Parmênides parece ter introduzido a opinião segundo a qual as mudanças são ocasionadas por duas causas, o que poderia ter ocorrido aos demais que postularam mais de um princípio fazendo destes princípios contrários, por exemplo, quente e frio, seco e úmido, fogo e água, etc.

Anáxagoras foi o primeiro a sustentar que a causa dos entes serem o que são é uma certa inteligência (nous) que há na natureza e que mantém em equilíbrio os diversos elementos; pois não é possível que algum elemento como o fogo ou a terra seja a causa de tal equilíbrio ou que tal equilíbrio seja fruto do mero acaso.

( Recordemos que Vernant identificara Anaxágoras como o mais maduro dos filósofos pré socráticos e que teria chegado a essa concepção influenciado pelo exercício do logos no âmbito da polis: assim, como a inteligência humana organiza o mundo dos homens para que haja harmonia e não guerra permanente, assim, deve haver uma inteligência no universo que mantém os elementos em sua determinação natural, por geração e corrupção).