domingo, 22 de novembro de 2009

Notas de aula - Metafísica A,2 - Aristóteles

METAFÍSICA A, 2


1.Questão: de que causas e princípios a sabedoria é ciência?

2.Estratégia para responder a questão: investigar a noção comum de sábio.

(essa estratégia é um procedimento padrão em Aristóteles, partindo-se do que se sabe ou pensa sobre um assunto para, através de sua crítica, chegar a uma noção mais exata).

a) o que conhece tudo universalmente;

b) o que conhece coisas difíceis, que nem todo mundo é capaz de conhecer (oposição aos
sentidos);

c) o que conhece com exatidão e ensina as causas;

d) a sabedoria é a ciência escolhida por si mesma e não em vista de sua utilidade;

e) a sabedoria é a ciência que comanda as demais.

3. Corroboração das opiniões anteriores.

- o conhecimento universal é mais difícil do que o particular

- as ciências mais exatas são as que precisam de menor número de princípios.

- o conhecimento das causas possui maior poder de ensinar.

- o saber pelo saber deve escolher o que é o melhor conhecimento (o mais cognoscível)

- o melhor conhecimento é o conhecimento das causas

- o conhecimento superior é aquele que sabe em vista de que cada coisa deve ser feita.

- o bem para cada coisa é aquilo em vista do que ela deve ser.

4. A ciência que buscamos, deve ser, pois, uma ciência que estuda os primeiros princípios e causas.

- Essa ciência não é um conhecimento produtivo. Razões:

Os primeiros filósofos foram movidos pela admiração

Primeiro se admiraram das coisas mais corriqueiras e, aos poucos, progrediram para as mais difíceis (por exemplo, sobre os astros)

É por se julgar ignorante de algo que alguém se admira desse algo e a filosofia é uma fuga dessa ignorância ( e não a busca de alguma utilidade)

Por isso a sabedoria só começou a ser buscada depois de inventadas as outras técnicas, práticas e para o divertimento.

Essa ciência, a sabedoria, é livre, pois é buscada em vista de si mesma, assim como é livre o homem que não depende de outrem para viver.

5.A posse desta ciência é mais do que humana ou essa ciência é uma ciência divina.

a) Simônides: “apenas deus poderia ter tal prêmio (a sabedoria)”

b) Se os poetas dizem a verdade, os deuses têm inveja dos homens por que estes podem ter esse conhecimento.

c) Mas os poetas mentem, os deuses não são invejosos e essa ciência é a mais valioso e divina.

d) É divina, pois, dentre os conhecimentos, é o que melhor cabe a um deus

e) É divina também pois deus é um dos itens de que trata, já que é uma das causas de tudo.

f) Todos os conhecimentos são mais necessários (úteis) que a sabedoria; mas nenhum é melhor do que ela.

6. A posse da sabedoria é o oposto da ignorância.

a) Todos começam a investigar pela admiração

b) Mas é preciso terminar no estado oposto e melhor do que o inicial

(notar a diferença entre essa concepção e a ideia socrática sobre a sabedoria)

Notas de Aula - Metafísica A,1 - Aristóteles

NOTAS DE AULA – INTRODUÇÃO À FILOSOFIA 12/11/2009



METAFÍSICA A, 1 – ARISTÓTELES


Todo homem deseja saber. Sinal: estima pelas sensações.

Memória e audição: capacidades necessárias para o aprendizado.

Experiência: surge, no ser humano, a partir das diversas recordações da mesma coisa.

Técnica: noção universal a partir da experiência.

Reflexão sobre as diferenças entre experiência e técnica.

A experiência parece ter mais sucesso na prática do que a técnica sem experiência

(razão: a experiência conhece o particular e a técnica, o universal e todo processo se realiza nos particulares - “o médico não cura o homem, mas um homem”)

A técnica é mais sabedoria do que a experiência.

(razão: a experiência sabe que tal coisa é assim ou assim, a técnica sabe o porquê, a causa das coisas serem assim ou assim)

Noção de sábio: o sábio não é o que é capaz de agir, mas o que conhece a causa, domina a explicação

(comparar com a ideia de Vernant sobre os sete sábios).

Quem possui a técnica é capaz de ensinar, por isso a técnica é um tipo superior de conhecimento.

A sensação: conhecimento decisivo sobre os particulares, mas não se constitui em sabedoria.

Os diversos tipos de técnica:

a) úteis (medicina, agricultura)

b) para o divertimento (música, poesia)

c) teóricas (matemática, física)

(notar a explicação histórica de Aristóteles para o surgimento das técnicas: conforme o avanço da civilização, o homem evolui de um estágio em que se preocupa com a mera sobrevivência até um estágio em que se permite tempo livre, para se ocupar com o puro saber)

A sabedoria é a ciência das primeiras causas e dos princípios; quanto mais próximos dessas causas mais sábio é o conhecimento, mais sábio é o seu possuidor.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

GABARITO DA PROVA DE 08 DE OUTUBRO

1) A polis é uma invenção grega. Enumere os três itens que a caracterizam. Explique um desses itens.


RESPOSTA

Segundo Jean-Pierre Vernant (A origem do pensamento entre os gregos), a polis se caracteriza principalmente pelos seguintes itens:

a) O uso da palavra como instrumento de poder: os habitantes da polis são considerados cidadãos e rejeitam a autoridade absoluta. Toda autoridade, em tese, deve ser justificada mediante o uso de argumentos racionais, que serão avaliados pela assembleia dos cidadãos, daí a importância da retórica e da dialética, pois tanto para exercer funções públicas como para participar das discussões era preciso dominar o uso da palavra; a palavra não tem uma função mágica, como num ritual, de instaurar uma realidade, mas tem o poder de garantir, pelo debate, que a melhor solução foi encontrada.

b) A publicidade dos acontecimentos sociais: o uso da palavra, oral e escrita, permite a criação de um espaço público de convivência entre os cidadãos, mesmo os cultos religiosos tornam-se acontecimentos públicos, que envolvem a cidade toda; dessa forma, os cidadãos podem participar de uma vida espiritual que antes só era acessível às elites aristocráticas.

c) A isonomia: os cidadãos, quaisquer que fossem a sua condição social, eram considerados iguais diante da lei; tal igualdade podia ser do tipo geométrico, proporcional (Sólon) ou aritmética, absoluta (Clístenes), idealmente dava o poder de participar e decidir nos negócios públicos a todo homem qualificado como cidadão, o que se atingia pela participação militar.


2) O que foi a crise da polis no século VI? Qual o papel dos sábios nessa crise?


RESPOSTA

A crise da polis no século VI foi uma situação de oposição extrema entre a aristocracia e os habitantes das suas terras. A causa dessa crise foi de origem econômica: os aristocratas, impulsionados pelo desenvolvimento comercial de Grécia, ficam desejosos de se enriquecer e passam a valorizar a vida luxuosa dos poderosos dos reinos orientais; ora, a ganância dos ricos, não tendo limites, vai ser sentida pelos mais pobres, que habitam suas terras desde muito tempo, como uma situação de anomia ou de ausência de lei, em que ficam à mercê do desejo dos proprietários de enriquecer por meio da exploração das suas terras e dos habitantes que nela vivem. Os sete sábios são homens que, graças ao seu saber prático e sua autoridade, procuram equilibrar a situação, evitando a desarmonia na cidade, seja denunciando a ganância dos ricos, seja propondo efetivamente leis que controlem essa ganância. Por meio dessa ação eles promovem um espaço público e uma vida pública, na qual os gregos discutirão o melhor meio de governo.



3) Há, segundo Vernant, uma estreita relação entre a invenção da polis na Grécia e o nascimento da filosofia no século VI. Explique essa relação.


RESPOSTA
Para Vernant, a polis é a cidade tal como foi inventada pelos gregos, com suas peculiaridades, quais sejam, o auto governo, a participação dos cidadãos na condução dos negócios públicos, por meio de debates em que o uso da palavra era fundamental, a própria criação de um espaço público e de uma vida espiritual para os cidadãos, o uso da razão, não apenas nos argumentos verbais, mas também no uso da moeda, do calendário e da escrita. Essas condições da polis teriam sido fundamentais para o aparecimento de uma reflexão que toma justamente o exercício da razão como único árbitro para as discussões. Na interpretação da natureza, por exemplo, os primeiros filósofos simplesmente tomaram de empréstimo a noção de lei forjada na polis, que garantia o equilíbrio entre os cidadãos e a projetaram sobre a natureza, procurando explicar a ordem dos fenômenos em termos de equilíbrio entre elementos de natureza discordante (água/fogo, seco/úmido, quente/frio, etc). Isto é, se não houvesse a polis, não haveria a filosofia (e provavelmente também o teatro, a literatura e a ciência tal como os temos hoje).



4) Cornford não acha que a filosofia dos físicos da Jônia tenha sido uma ruptura radical com o pensamento mítico próprio da Grécia no século VI. Por que ele pensa assim? O que Vernant pensa dessa ideia de Cornford?



Cornford acha que o pensamento dos primeiros filósofos da Jônia, embora se apresente em um vocabulário mais abstrato e menos antropomórfico, ainda se utiliza dos esquemas do pensamento mítico para explicar os fenômenos naturais, e não apenas os esquemas mentais, mas até mesmo imagens míticas são usadas para apresentar as explicações sobre a natureza que ainda se apresentam muito como resultado de combates, busca de equilíbrio e outras ideias da tradição mítica. E sobretudo carecem de um sentido de observação e experimentação com relação aos fenômenos, o que caracteriza uma visão científica.

Vernant discorda da tese de Cornford, pois para ele, os físicos da Jônia rompem com a tradição mítica e fazem isso conscientemente, a utilização de um vocabulário mais abstrato é uma prova do seu esforço de buscar explicações naturais (e não mais sobrenaturais) para os fenômenos. Se há utilização de esquemas mentais e mesmo de metáforas comuns aos mitos por um lado, a intenção das explicações dos fisiólogos (as cosmologias) são totalmente diversas das explicações míticas (cosmogonias ou teogonias). Enquanto o interesse dos mitos é justificar uma determinada situação por meio do recurso às histórias sobre os deuses, num tempo imemorial (mitos de soberania), a intenção das teorias dos físicos da Jônia era explicar as causas dos fenômenos naturais em termos de outros fenômenos e elementos naturais, que aliás funcionam hoje como funcionaram sempre, o que causa os fenômenos hoje é a mesma coisa que os causava desde o começo do mundo, não há diferença entre um mundo primordial e o mundo de hoje.